Toca do Tatu: Arte Urbana no Tatuapé

Projeto Toca do Tatu transforma o bairro do Tatuapé com murais artísticos, oficinas culturais e artistas que celebram a história local através da arte urbana.

INTERVENÇÕES URBANAS

autor: Astral

5/4/2025

Jennifer Erny mergulhou na natureza do Tatuapé antes da urbanização, mostrando tatus nadando no Rio
Jennifer Erny mergulhou na natureza do Tatuapé antes da urbanização, mostrando tatus nadando no Rio

Um novo marco cultural no Tatuapé: arte urbana, história e pertencimento

Entre becos e ruas movimentadas da zona leste de São Paulo, o bairro do Tatuapé ganhou em 2024 um presente para sua memória cultural: o projeto Toca do Tatu. Iniciativa das instituições Zupi, REC Brasil e Festival Pixel Show, o projeto resgatou a identidade visual e histórica do bairro por meio de murais de arte urbana assinados por dez grandes nomes do street art brasileiro. Com o objetivo de valorizar a cultura local, reconectar moradores com suas origens e transformar o espaço público em uma galeria a céu aberto, a ação se tornou um marco na valorização do patrimônio imaterial da cidade.

A proposta teve como ponto de partida uma frase simples, mas potente: “Como era o Tatuapé antes de virar o que é hoje?”. A partir dessa provocação, artistas urbanos foram convidados a interpretar as origens do bairro em murais distribuídos pela Rua Jarinu, esquina com a Rua Hugo Napoleão — totalizando mais de 100 metros de arte pintada. Com patrocínio de marcas como Montana e apoio do Ministério da Cultura, a Toca do Tatu marca um novo capítulo na relação entre arte urbana, comunidade e cidade.

Além da arte em si, o projeto contou com oficinas socioeducativas para crianças e adolescentes da região, promovendo o pertencimento e o olhar crítico desde cedo. Assim, a Toca do Tatu vai além de pintar muros: ela pinta histórias, memórias e futuros.

  • Jennifer Erny mergulhou na natureza do Tatuapé antes da urbanização, mostrando tatus nadando no Rio Tietê.

Toca do Tatu: Como a Arte Urbana Está Revitalizando o Bairro do Tatuapé em São Paulo

Os artistas por trás dos murais: estilos diversos com o mesmo propósito

A força do projeto reside não apenas na qualidade artística, mas na diversidade de linguagens presentes. Cada artista convidado trouxe um olhar particular sobre o Tatuapé, reconstituindo momentos da história local e da cultura urbana com cores, formas e símbolos. Veja quem participou e o que trouxe para essa verdadeira exposição a céu aberto:

  • Sérgio Free criou um mural de 20x4,5m que retrata as ruas de São Paulo nos anos 90, período em que o bairro vivia uma intensa urbanização. Sua arte relembra os tempos da infância no Tatuapé e a transformação da paisagem urbana.

  • Kuêio apostou em seus personagens cômicos para representar o surgimento do bairro com humor e crítica social. Sua obra (9,6x5m) fala sobre formação de identidade e as marcas do tempo.

  • Jennifer Erny mergulhou na natureza do Tatuapé antes da urbanização, mostrando tatus nadando no Rio Tietê em um mural de 10,5x8m que mistura fantasia e memória ecológica.

  • Luna Buschinelli, conhecida por sua sensibilidade em temas sociais, explorou a ligação entre os caminhos escavados por tatus e as sinapses do cérebro humano, num mural de 8,9x5m que convida à introspecção.

  • Redcap trouxe sua personagem Redzinha em uma narrativa afetiva que representa infância, raízes e o redescobrimento do bairro (6,5x5m).

  • Levi Aquino conectou o tupi-guarani à arte urbana. Seu mural de 8,6x5,5m apresenta a frase "caminho do tatu", remetendo ao nome original do bairro.

  • Julio Arcanjo celebrou os jovens dos anos 1980 a 2000 que cresceram no Tatuapé, com um mural de 9x3,1m que une nostalgia e crítica à gentrificação.

  • Renan Santos, com um mural de 7,4x4,6m, homenageou tradições culturais e urbanas locais, fundindo grafite com elementos do cotidiano.

  • Lia Fênix optou por cores fortes e elementos simbólicos para celebrar a identidade feminina e comunitária do bairro em um grande mural de 10,5x8m.

  • Rebeca Armus encerra o trajeto com um mural de 5x3,6m que mostra a evolução do bairro através do tempo, com estilo moderno e instigante.

Essa variedade de olhares transforma o percurso em uma experiência multifacetada, onde cada mural se conecta à história coletiva e às trajetórias individuais dos moradores.

Levi Aquino conectou o tupi-guarani à arte urbana. Seu mural de 8,6x5,5m apresenta a frase "caminho
Levi Aquino conectou o tupi-guarani à arte urbana. Seu mural de 8,6x5,5m apresenta a frase "caminho

Arte urbana como ferramenta de transformação social e pertencimento

O diferencial da Toca do Tatu não está apenas na pintura de murais, mas na forma como o projeto dialoga com a comunidade. Com ações pedagógicas nas escolas do entorno, crianças entre 3 e 13 anos foram introduzidas ao universo da arte urbana, discutindo o que é o bairro, quem somos enquanto moradores, e como podemos expressar isso visualmente.

Durante as oficinas, os alunos criaram desenhos inspirados nas obras dos artistas, que depois foram publicados no eBook do projeto — um material gratuito e acessível, disponível neste link oficial da REC Brasil. Essas atividades não só ensinaram sobre arte, mas fortaleceram vínculos afetivos e a noção de coletividade, além de plantarem sementes para novos artistas.

A rua deixou de ser só caminho e se transformou em espaço educativo. Para os organizadores, essa é a verdadeira missão: mostrar que arte é parte do cotidiano, está na paisagem e pode transformar a vida das pessoas. A arte urbana, nesse contexto, ganha seu valor social e cultural, rompendo as fronteiras entre o museu e o público comum.

  • Levi Aquino conectou o tupi-guarani à arte urbana. Seu mural de 8,6x5,5m apresenta a frase "caminho do tatu", remetendo ao nome original do bairro.

Luna Buschinelli, conhecida por sua sensibilidade em temas sociais, explorou a ligação entre os cami
Luna Buschinelli, conhecida por sua sensibilidade em temas sociais, explorou a ligação entre os cami

Futuro da Toca do Tatu: expansão, permanência e novos capítulos

Com o sucesso da primeira edição, os organizadores já vislumbram expandir a Toca do Tatu para outras ruas do bairro e para novas cidades. A ideia é que o projeto cresça como um organismo vivo, adaptando-se a diferentes contextos e comunidades, sempre com o compromisso de promover a arte acessível e o resgate histórico.

A inspiração vem de grandes centros como o Beco do Batman (SP), o Museu de Arte de Rua e o norte-americano Wynwood Walls (Miami). Porém, a Toca do Tatu guarda um diferencial: sua ênfase na memória afetiva local e no envolvimento direto com a população.

Outra frente em discussão é a manutenção dos murais. Para que essas obras permaneçam vivas e bem conservadas, ações de zeladoria e envolvimento comunitário estão sendo planejadas, garantindo que o espaço continue sendo um ponto de encontro, turismo e identidade cultural.

O site da REC Brasil traz atualizações frequentes sobre novas etapas, bastidores do projeto e materiais educativos. Para quem busca inspiração, arte engajada e histórias contadas em tinta spray, a Toca do Tatu é um destino certo — seja no mapa físico da cidade ou no emocional de seus moradores.

  • Luna Buschinelli, conhecida por sua sensibilidade em temas sociais, explorou a ligação entre os caminhos escavados por tatus e as sinapses do cérebro humano.

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