Mira Schendel: A Palavra e o Signo Gráfico em Retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake

Descubra a obra de Mira Schendel na exposição 'Esperar que a Letra se Forme' no Instituto Tomie Ohtake. Mais de 250 obras exploram o uso da palavra, letras e signos gráficos na arte da renomada artista brasileira. Entrada gratuita.

ARTES PLÁSTICASEXPOSIÇÕES

autor: Astral

10/25/2024

foto Divulgação Instituto Tomie Ohtake
foto Divulgação Instituto Tomie Ohtake

Mira Schendel: A Palavra como Forma e Expressão no Instituto Tomie Ohtake

O Instituto Tomie Ohtake traz ao público uma retrospectiva monumental da artista Mira Schendel, intitulada "Esperar que a Letra se Forme". Sob a curadoria de Galciani Neves e Paulo Miyada, a exposição explora de maneira profunda a presença do signo gráfico, da letra e da palavra na vasta e inovadora produção de Schendel. Reunindo mais de 250 obras, o projeto convida o visitante a uma imersão no universo conceitual da artista, que foi uma das figuras mais significativas da arte brasileira no século XX.

A Poética Gráfica de Mira Schendel

Mira Schendel, nascida em 1919 na Suíça, com ascendência judaica e uma trajetória marcada pela imigração ao Brasil em 1949, desenvolveu uma obra que transcende as classificações tradicionais da arte. Ao chegar ao Brasil, a artista rapidamente integrou e dialogou com os movimentos artísticos que floresciam nas décadas de 1960 e 1970, como a Poesia Concreta e o Neoconcretismo, além de explorar as possibilidades da linguagem gráfica.

Nesta exposição, dividida em sete núcleos, Mira Schendel nos revela sua capacidade singular de integrar palavras e signos gráficos em composições que desafiam a rigidez do tempo e do espaço. A letra, para Mira, é mais do que um símbolo; é uma forma de capturar o efêmero, de fazer uma alusão ao tempo sem jamais cristalizá-lo. Como ela mesma expressou: “A sequência das letras no papel imita o tempo, sem poder realmente representá-lo”. Esse conceito permeia muitas de suas obras, onde o desenho da palavra se torna uma extensão direta do gesto criativo.

foto: Divulgação Instituto Tomie Ohtake

A Exposição e Seus Núcleos

O percurso expositivo organizado pela curadoria revela diferentes fases e abordagens de Schendel. No primeiro núcleo, "Chegada ao Brasil e à Palavra", encontramos o desenvolvimento inicial da artista, onde ela transita de representações figurativas para experimentações gráficas mais abstratas. Este momento também marca a inclusão de rótulos, textos e letras em suas obras, evidenciando a progressiva centralidade da palavra em suas composições.

Outro destaque é o núcleo "Escritura-desenho estruturando espaços", onde Schendel trabalha com nanquim e carvão, combinando elementos caligráficos com letras e signos que ocupam e estruturam o espaço do papel. Este diálogo entre o verbo e a imagem foi descrito por Haroldo de Campos como uma verdadeira "arte-escritura", onde a palavra não é apenas um elemento literário, mas se transforma em uma construção visual que dá forma ao espaço.

A Palavra como Enunciação e Corpo

Um dos aspectos mais fascinantes da obra de Mira Schendel é como ela utiliza diferentes idiomas – alemão, italiano e português – para criar uma multiplicidade de significados e sonoridades. No núcleo "A Palavra em Espiral", essas diferentes línguas são apresentadas lado a lado, criando uma enunciação que vai além do texto escrito. Aqui, a palavra é mais do que um meio de comunicação; ela é um acontecimento, uma performance visual e sonora.

Em "Arte: encontro com o corpóreo", Mira explora sua série de Toquinhos, que incluem decalques de letraset sobre papel de arroz e acrílico. Esses trabalhos trazem uma dimensão tátil à escrita, onde o toque do artista se reflete diretamente no objeto final. Já no núcleo "Refluir de Páginas Fechadas e Abertas", Schendel se aprofunda nos cadernos que criou em 1971, onde suas sequências de folhas grampeadas e encadernadas sugerem uma narrativa fragmentada e ao mesmo tempo contínua, explorando o tempo e o espaço de forma única.

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Monotipia de 1964-1965 (Fuis Fotografie, Cologne/Divulgação)   Leia mais em: https://vejasp.abril.co
Monotipia de 1964-1965 (Fuis Fotografie, Cologne/Divulgação)   Leia mais em: https://vejasp.abril.co
ravura do albúm YU-GEN, Tomie Ohtake
ravura do albúm YU-GEN, Tomie Ohtake

Monotipia de 1964-1965 (Fuis Fotografie, Cologne/Divulgação)

Gravura do albúm YU-GEN, Tomie Ohtake

As Monotipias e a Grande Instalação

Dois dos pontos altos da exposição são as famosas séries de Monotipias e a obra monumental Ondas Paradas de Probabilidade, que ganha destaque como uma das instalações mais conhecidas de Mira Schendel. As monotipias, criadas em finíssimos papéis de arroz, são caracterizadas pela delicadeza e pelo caráter quase etéreo, refletindo a busca incessante da artista por capturar a leveza e o movimento.

Ondas Paradas de Probabilidade, uma instalação de grandes proporções, envolve o visitante em um espaço onde as palavras e os sinais visuais parecem flutuar e interagir com o ambiente, criando uma experiência sensorial imersiva. Essa obra, mais do que qualquer outra, sintetiza a investigação de Schendel sobre a impossibilidade de fixar o tempo e a fluidez da existência.

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Sustentabilidade e Arte Digital: Uma Combinação Necessária.

A arte digital vem se mostrando uma aliada poderosa na busca por soluções mais sustentáveis no mundo da arte. Com a digitalização, os artistas podem criar sem a necessidade de materiais físicos como tinta, papel ou madeira, que muitas vezes envolvem processos de produção prejudiciais ao meio ambiente. Além disso, a arte digital elimina o desperdício de materiais que não são aproveitados em obras físicas, como sobras de tinta e lona. O impacto positivo dessa prática é evidente, já que menos recursos naturais são utilizados na criação e menos resíduos são descartados. Essa transição para o digital abre caminho para uma produção artística mais limpa, sem a necessidade de transporte de obras ou exposições físicas, que também contribuem para a emissão de carbono.

Artistas ao redor do mundo têm se engajado em iniciativas que promovem a sustentabilidade através da arte digital. O conceito de eco-arte, por exemplo, tem sido amplamente utilizado por criadores que utilizam suas plataformas digitais para destacar questões ambientais. Combinando arte digital e ativismo ecológico, esses artistas aumentam a conscientização sobre problemas como desmatamento, poluição e mudanças climáticas. A ausência de uma pegada ecológica significativa e o alcance global proporcionado pelas plataformas digitais permitem que essas mensagens se espalhem de maneira eficaz, transformando a arte em uma ferramenta de impacto ambiental positivo.

Mira Schendel e o Legado da Palavra na Arte

A retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake oferece uma visão abrangente sobre a contribuição de Mira Schendel para a arte brasileira e internacional. Sua obra não apenas dialoga com os movimentos de vanguarda de sua época, mas também antecipa questões contemporâneas sobre a linguagem, o tempo e a materialidade da arte. A artista transformou letras, palavras e signos em protagonistas de suas composições, criando um corpo de trabalho que desafia a classificação e continua a inspirar gerações de artistas e pensadores.

Visitar essa exposição é mais do que um encontro com a obra de Mira Schendel; é uma imersão na essência de sua busca por dar forma ao invisível e ao efêmero através da arte.

Serviço
Mira Schendel – Esperar que a Letra se Forme
Abertura: 24 de outubro de 2024
Período: 25 de outubro de 2024 a 02 de fevereiro de 2025
Horário: Terça a domingo, das 11h às 19h – Entrada gratuita
Local: Instituto Tomie Ohtake, Av. Faria Lima 201 – Pinheiros, São Paulo
Metrô: Estação Faria Lima/Linha 4 Amarela

Mira Schendel 'Que beleza', 1966. Créditos: Ricardo Miyada.
Mira Schendel 'Que beleza', 1966. Créditos: Ricardo Miyada.

Mira Schendel 'Que beleza', 1966. Créditos: Ricardo Miyada.

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