Artes Visuais: Artistas Indígenas e Afro-Brasileiros
Explore a rica narrativa das artes visuais brasileiras, destacando a importância dos artistas indígenas e afro-brasileiros. Conheça como suas expressões culturais estão transformando a arte contemporânea no Brasil, desafiando a perspectiva tradicional e reconhecendo suas contribuições essenciais.
EXPOSIÇÕESCULTURA
Astral
10/26/2025


A paisagem das artes visuais no Brasil está sendo reescrita por uma força inegável: a reafirmação e expansão das narrativas indígenas e afro-brasileiras. Longe de serem notas de rodapé ou meras inclusões programáticas, essas vozes, outrora marginalizadas, hoje ocupam o centro do palco em grandes instituições, feiras de arte e bienais. Este movimento não é apenas uma questão de representatividade, mas uma revolução estética e conceitual que desafia os cânones eurocêntricos e propõe novas formas de entender o mundo, a história e o futuro.
Este artigo aprofunda como artistas indígenas e afro-brasileiros estão redefinindo os discursos através de sua pesquisa e produção, que abordam a ancestralidade, a cosmologia, a luta por direitos territoriais, o racismo estrutural e a resiliência cultural. Utilizando desde mídias tradicionais até a videoarte, instalações imersivas e a intervenção urbana, esses criadores estão transformando a arte contemporânea brasileira e global com uma originalidade estética profunda, marcando a Bienal de São Paulo e outros palcos como epicentros dessa visibilidade.
A Centralidade das Narrativas: Descolonizando o Olhar nas Artes Visuais
A maior mudança nas artes visuais brasileiras não é a mera "inclusão" de artistas indígenas e afro-brasileiros, mas a centralidade de suas narrativas. Por décadas, a história da arte no Brasil foi contada a partir de uma perspectiva predominantemente branca e europeia, relegando as expressões culturais e artísticas desses povos a categorias como "arte popular" ou "artesanato". Hoje, assistimos a uma correção histórica, onde a pesquisa e a produção desses artistas são reconhecidas como pilares fundamentais da arte contemporânea brasileira.
Artistas como Jaider Esbell (in memoriam), por exemplo, não apenas criaram obras de arte visual impactantes, mas também foram intelectuais, curadores e articuladores que abriram caminho para a presença indígena em espaços institucionais como a 34ª Bienal de São Paulo. Esbell, com sua mitologia Makuxi e sua visão crítica do "mundo do não-índio", demonstrou que a arte indígena não é folclore, mas uma linguagem complexa e filosófica que dialoga com as questões mais urgentes do nosso tempo. Sua contribuição ressoa na lição do espírito criativo de abraçar a curiosidade e buscar a originalidade, mas em um contexto coletivo de pertencimento cultural.
A arte afro-brasileira, por sua vez, sempre carregou a marca da resistência e da invenção. Artistas como Gê Viana, com suas radiolas que desconstroem narrativas colonialistas, e Nádia Taquary, com suas esculturas que evocam o Baobá e a cosmovisão africana, demonstram a potência da ancestralidade como fonte de inspiração e crítica. As artes visuais se tornam um campo de batalha contra o racismo estrutural, a marginalização e o apagamento histórico. A intervenção urbana e as instalações imersivas são usadas para trazer essas narrativas para o espaço público, forçando um confronto direto com o espectador. A originalidade aqui não é apenas estilo, mas uma nova forma de ver e recontar a história.
Vozes Plurais no Coração das Artes Visuais: A Reafirmação Indígena e Afro-Brasileira na Arte Contemporânea do Brasil


Ancestralidade, Cosmologia e Luta: A Profundidade Temática na Produção Artística
A produção artística de indígenas e afro-brasileiros se distingue pela profundidade de seus temas, que vão muito além da estética. Eles trazem para as artes visuais a riqueza de suas cosmologias, a urgência de suas lutas por direitos territoriais e a complexidade de suas memórias ancestrais.
Cosmologias e Espiritualidades: Artistas como Daiara Tukano e Yaka Huni Kuin traduzem visões de mundo milenares em pinturas, vídeos e instalações. Suas obras não são meras representações, mas portais para a compreensão de uma relação intrínseca com a natureza e o universo, onde o humano não é o centro, mas parte de uma teia interconectada. A videoarte, neste contexto, assume um papel crucial, permitindo a narração de mitos e rituais que desafiam a linearidade da história ocidental.
Luta por Direitos Territoriais: A intervenção urbana e a performance são frequentemente empregadas para amplificar a voz das comunidades em defesa de suas terras e culturas. Seja através de projeções digitais em prédios ou de performances que evocam rituais de resistência, esses artistas transformam o espaço público em um palco para a conscientização. A arte se torna um grito por justiça, um registro visual de um conflito real.
Racismo Estrutural e Resiliência Cultural: Artistas como Sallisa Rosa e Aline Baiana abordam o impacto do racismo na sociedade brasileira e a incrível resiliência cultural de seus povos. Seus trabalhos podem utilizar a fotografia, a escultura ou a instalação para expor a dor, celebrar a identidade e propor um futuro de cura e reconhecimento. As "Cores Dopamínicas" podem surgir em suas obras não como pura alegria, mas como um brilho de esperança e vitalidade que persiste apesar das adversidades.
Essa profundidade temática exige do público uma curiosidade e um aprendizado contínuo que vão além da apreciação estética. Exige a disposição de desaprender e reeducar o olhar, reconhecendo a arte não como um objeto isolado, mas como um elemento indissociável da vida, da política e da espiritualidade.
Daiara Hori Figueroa Sampaio – Duhigô, do povo indígena Tukano – Yé’pá Mahsã, clã Eremiri Hãusiro Parameri do Alto Rio Negro na amazônia brasileira, nascida em São Paulo. Artista, ativista, educadora e comunicadora.


A Pluralidade de Mídias: Do Tradicional ao Digital na Intervenção Artística
A originalidade estética profunda dessas narrativas se manifesta em uma impressionante pluralidade de mídias e linguagens. Longe de se restringirem a formas esperadas, esses artistas experimentam e inovam, utilizando desde técnicas milenares até as mais recentes tecnologias.
Mídias Tradicionais e Recontextualizadas: Técnicas como a pintura, o desenho, a cerâmica e a tecelagem ganham novos significados. O uso de tintas naturais, fibras e argilas não é apenas uma escolha estética, mas uma afirmação de conexão com a terra e com os conhecimentos ancestrais. A valorização da manualidade e dos saberes que permeiam a exposição "Letras & Filetes" encontra eco aqui, onde a letra pintada à mão e o filete são tão importantes quanto uma videoinstalação.
Videoarte e Novas Tecnologias: A videoarte é um campo fértil para a experimentação de artistas como Denilson Baniwa. Seus vídeos podem mesclar imagens documentais de sua comunidade com animações digitais, criando narrativas visuais que transitam entre o real e o mítico. As instalações imersivas que utilizam projeção mapeada e som ambiente transportam o espectador para dentro de universos cosmogônicos ou para paisagens sonoras ancestrais. Essa é uma forma de intervenção artística que usa a tecnologia para amplificar vozes e criar novas experiências sensoriais.
Intervenção Urbana e Performance: A cidade se torna um palco. A intervenção urbana pode se manifestar em murais que contam histórias ancestrais, em grafites que denunciam o racismo, ou em performances que ocupam espaços públicos para resgatar rituais e expressões culturais. O ato de usar o espaço comum para exibir a arte é, em si, um gesto político de afirmação e visibilidade.
Essa versatilidade demonstra que o espírito criativo desses artistas é ilimitado. Eles não se conformam com um único meio, mas buscam a ferramenta mais eficaz para comunicar sua mensagem, seja ela uma pintura a óleo ou uma complexa instalação de videoarte.
Denilson Baniwa é artista visual, publicitário e defensor dos direitos indígenas.


O Papel da Bienal de São Paulo e Outros Palcos na Visibilidade Global
Instituições como a Bienal de São Paulo têm desempenhado um papel crucial na amplificação dessas vozes, transformando-se em importantes plataformas para a visibilidade de artistas indígenas e afro-brasileiros. A 34ª Bienal de São Paulo, por exemplo, foi amplamente reconhecida pela inclusão e pela centralidade das perspectivas decoloniais, trazendo artistas de diversas etnias e origens.
Ao ocupar esses espaços hegemônicos, os artistas não apenas exibem suas obras, mas também provocam um diálogo e uma reavaliação dos modelos expositivos. A conexão com outros artistas e com o público global se intensifica, gerando debates sobre diversidade, representação e o futuro da arte contemporânea. A Bienal de São Paulo deixa de ser um mero espelho de tendências globais para se tornar um catalisador de transformações internas, influenciando o mercado de arte, as galerias e as coleções.
Além da Bienal, outras feiras, centros culturais e iniciativas independentes também desempenham um papel vital. Projetos de intervenção urbana com artistas indígenas e afro-brasileiros em periferias e centros urbanos, o apoio a espaços culturais dedicados a essas narrativas e a criação de redes de mentoria e produção são essenciais para sustentar e expandir esse movimento.
A reafirmação e expansão das narrativas indígenas e afro-brasileiras nas artes visuais não é uma fase passageira. É um processo contínuo de descolonização, que enriquece a arte contemporânea brasileira com novas formas de beleza, sabedoria e resistência. É a prova de que o espírito criativo floresce com mais força quando todas as vozes são ouvidas e valorizadas, transformando o Brasil em um farol de pluralidade artística para o mundo.
Obra de Marinella Senatore durante a 34a Bienal de São Paulo | FOTO: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
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