Doris Salcedo: A Memória e a Política na Arte Contemporânea
Explore a obra de Doris Salcedo e como sua arte transforma memória e política em esculturas impactantes. Descubra a relevância de sua produção no cenário contemporâneo.
ARTE CONTEMPORÂNEAEXPOSIÇÕES
autor: Astral
1/31/2025


Doris Salcedo é uma das mais impactantes artistas da arte contemporânea, utilizando suas instalações para dar voz às vítimas da violência política. Sua obra transcende a arte tradicional ao transformar objetos cotidianos em memoriais, criando um espaço de reflexão e luto. Neste artigo, compartilho minha pesquisa sobre suas contribuições para as artes visuais, analisando como suas criações dialogam com a história, a política e a memória coletiva.
A Trajetória de Doris Salcedo e Sua Influência na Arte Contemporânea
Minha jornada de pesquisa sobre artes plásticas me levou a estudar artistas que utilizam a arte como um meio de reparação histórica e emocional. Entre eles, Doris Salcedo se destaca por sua abordagem única. Nascida em Bogotá, Colômbia, em 1958, Salcedo teve uma formação acadêmica sólida, estudando Belas Artes em sua cidade natal e concluindo um mestrado na Universidade de Nova York. Sua trajetória a levou de volta a Bogotá, onde passou a lecionar e desenvolver suas obras, profundamente marcadas pela memória da violência política.
O impacto de sua arte vai além da estética, pois suas instalações carregam um peso emocional inegável. Suas criações partem de testemunhos reais de vítimas da guerra e da repressão, transformando móveis, roupas e outros objetos do dia a dia em símbolos de ausência e perda. O trabalho de Salcedo não apenas expõe a dor, mas também busca reconstruir a memória coletiva, criando um espaço para reflexão e luto.
Doris Salcedo: A Arte como Memória e Reparação


A Materialidade como Ferramenta de Expressão
O que me fascina na obra de Salcedo é sua capacidade de transformar materiais em símbolos de resistência e memória. Em minhas pesquisas sobre arte contemporânea, percebo que muitos artistas exploram a materialidade, mas poucos conseguem fazer isso com tanta precisão e impacto. A escolha de objetos comuns, como cadeiras, mesas e roupas, confere uma proximidade emocional ao espectador, tornando sua arte acessível e universal.
Um exemplo marcante é 6 e 7 de novembro (2002), uma instalação que faz referência ao ataque ao Palácio de Justiça de Bogotá em 1985. Durante 53 horas, cadeiras de madeira desciam lentamente pela fachada do edifício, simbolizando as vidas perdidas e a ausência deixada pelo massacre. Outro exemplo poderoso é Shibboleth (2007), uma rachadura de 167 metros no piso da Tate Modern, em Londres. A obra representa a segregação e as barreiras invisíveis que marginalizam imigrantes e minorias.
Cada uma de suas obras carrega um profundo simbolismo. Em Unland: A túnica do órfão (1997), uma mesa é coberta por uma fina camada de tecido costurada com cabelos humanos, representando a vulnerabilidade e a perda irreparável. Em Istambul (2003), 1.550 cadeiras empilhadas entre dois prédios evocam imagens de valas comuns e o caos da guerra. O uso da materialidade por Salcedo transcende o mero conceito artístico e se torna um meio de contar histórias silenciadas.
Palácio de Justiça de Bogotá em 1985. Durante 53 horas, cadeiras de madeira desciam lentamente pela fachada do edifício.
O Papel da Arte na Preservação da Memória Coletiva
Um dos aspectos mais importantes que percebo na arte de Doris Salcedo é sua relação com a memória e a história. Em minhas pesquisas sobre artes visuais, noto que muitos artistas utilizam o conceito de memory sculpture (escultura de memória), mas poucos fazem isso com a profundidade e a seriedade de Salcedo. Ela trabalha a partir da ausência, destacando aquilo que foi perdido e criando espaços que permitem ao espectador refletir sobre as consequências da violência.
A noção de reparação também é central em sua obra. Salcedo utiliza a arte como um meio de restaurar o passado e dar voz às vítimas, transformando a dor em um testemunho visual. Como ela mesma afirma, suas esculturas não são apenas sobre as vítimas individuais, mas sobre uma memória coletiva que precisa ser preservada. Esse conceito se alinha com estudos como os de Andreas Huyssen, que analisa suas obras como exemplos de memória urbana e palimpsestos históricos.

Shibboleth (2007), uma rachadura de 167 metros no piso da Tate Modern, em Londres.
A Relevância de Doris Salcedo no Cenário Artístico Atual
Ao longo de sua carreira, Salcedo participou de importantes exposições internacionais, como a Documenta de Kassel, a Bienal de Istambul e mostras no Guggenheim e Tate Modern. Seu trabalho recebeu reconhecimento mundial, e ela foi premiada com o Prêmio Velázquez de Artes Plásticas e o Nasher Prize for Sculpture.
O que torna sua arte tão relevante hoje é sua capacidade de dialogar com temas globais. A violência política, a imigração e a marginalização continuam sendo questões urgentes, e suas instalações nos fazem confrontar essas realidades. Ao transformar a ausência em presença, Salcedo cria um impacto emocional profundo e duradouro.
Neste artigo, exploramos como a obra de Doris Salcedo redefine a arte contemporânea ao unir memória, materialidade e política. Nos próximos textos, continuarei investigando artistas que, como ela, utilizam a arte como um meio de resistência e reflexão. Se você deseja conhecer mais sobre as artes plásticas e o impacto da arte contemporânea, continue acompanhando nossa série de artigos.


Istambul (2003), 1.550 cadeiras empilhadas entre dois prédios evocam imagens de valas comuns e o caos da guerra.
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