A Performance Pessoal e o Diálogo com o Mundo na Obra de Sérgio Astral

O que Sérgio Astral costuma chamar de "performance artística pessoal" dentro de seu Livro de Artista é exatamente essa desconexão consciente. É um mergulho profundo onde ele se desliga de tudo o que é externo para se jogar de corpo e alma em um estudo crítico e pessoal. Não há regras, apenas a liberdade de explorar ideias, emoções e conceitos visuais. É um laboratório íntimo, onde as fotografias que tirou ao longo da vida se transformam em colagens, os desenhos ganham camadas de tinta, e as pinturas se desdobram em novas narrativas.

Essa performance não se limita ao ato de criar; ela se estende à forma como Sérgio encara a vida e a arte. Suas exposições em locais emblemáticos como o Metrô de São Paulo e o Museu Histórico Índia Vanuíre, a aprovação em editais como a Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc, e sua atuação como arte-educador em Barra do Garças-MT, tudo isso alimenta a mesma energia que o impulsiona a preencher as páginas de seu Livro de Artista. São momentos de reconhecimento e de diálogo que reverberam no silêncio de sua criação.

A produção de Astral se concentra em pinturas acrílicas em painéis, um repertório de mais de 4.600 telas que reinventam ícones da cultura. Sua pesquisa se expandiu para as intervenções artísticas, utilizando fotografia e videoarte para dialogar com as ruas. Um exemplo é a instalação artística que hoje faz parte das obras do Centro Cultural Valdon Varjão, situada em sua entrada. Com spray e tinta acrílica, ele cria uma linguagem explosiva e detalhada que conecta sua arte ao contexto urbano. A rua se torna extensão do ateliê, e o ateliê, um espelho da rua.

Atualmente, a residência/galeria de Sérgio abriga aproximadamente 800 painéis, um convite aberto ao público para uma imersão em sua vibrante produção. Essa constante evolução, essa busca incessante por novas formas de expressão, é o motor por trás de cada colagem, cada desenho, cada pincelada que compõe seu universo artístico.

O Livro de Artista: Uma História Viva e Contemporânea

O Livro de Artista é uma linguagem em si, com uma história rica e fascinante que se entrelaça com a evolução da arte visual. Suas raízes podem ser traçadas até o início do século XX, com os futuristas e dadaístas, que viam no livro um espaço de experimentação além da tela tradicional. Era uma forma de romper com as convenções e apresentar a arte de maneira mais acessível e íntima.

Desde então, o Livro de Artista floresceu, tornando-se um instrumento poderoso para artistas que buscam expressar ideias, registrar processos criativos, ou até mesmo expor suas obras de uma forma que desafia os limites do espaço físico. Ele transcende a função de mero catálogo, tornando-se uma obra de arte em si, capaz de contar histórias, provocar reflexões e oferecer uma experiência tátil e visual única.

Hoje, em 2025, o Livro de Artista continua a ser um formato vibrante e relevante nas artes visuais. Nomes incríveis estão deixando suas marcas nesse formato, como David Hockney, que usa desenhos feitos no iPad para criar edições como "A Bigger Message", que parecem saltar das páginas com cores vibrantes – ele esteve em destaque na Tate Modern este ano, mostrando como a tecnologia pode se unir à tradição. Tracey Emin, por sua vez, transforma papel em confissões, como em "More Of You", com poemas e rabiscos que parecem um diário rasgado e lindo, exibido na Bienal de Veneza de 2024. Sua obra é um convite à intimidade.

E há Rashid Johnson, que em "Black Balloons" mistura fotos e textos para falar de identidade negra, uma obra que brilhou na Art Basel este ano, provando a força do formato para abordar temas sociais relevantes. Mas não são só os grandes nomes que contam. Artistas independentes, como a mexicana Betsabeé Romero, estão fazendo livros com fibras de agave, trazendo sustentabilidade e cultura local para cada página, mostrando a diversidade de materiais e abordagens. E há as edições limitadas, que viram febre entre colecionadores – o UBS Art Market Report de 2024 mostrou que essas obras estão valorizando rápido, quase como pequenos tesouros. O Livro de Artista é assim: uma peça de arte plásticaque se segura, uma experiência de arte contemporânea que não precisa de parede para existir. É um pedaço de alguém que decidiu transformar papel em algo eterno, e isso é simplesmente mágico.

Livro de artista: estudos visuais. 2017ano.

O Futuro Tátil da Arte: Livros de Artista como Ponte entre Mundos

O Livro de Artista, em 2025, é uma prova viva de como as artes visuais podem ser ao mesmo tempo delicadas e poderosas. Ele dança entre a tecnologia que o faz brilhar, as histórias que o tornam urgentes e os artistas que o transformam em algo único. Não é só um objeto – é uma conversa, um ato de criação que junta artes plásticas e arte contemporânea em páginas que se pode tocar, sentir, viver. Seja nas mãos de um mestre como Hockney ou de um coletivo que luta por sua voz, ele está aí para nos lembrar que a arte não tem limites.

Para Sérgio Astral, o Livro de Artista é a convergência de todas as suas paixões e experiências: a sensibilidade da fotografia, a expressividade do desenho, a densidade da pintura, a liberdade da colagem, e a busca constante por novas formas de expressão que o levaram às instalações artísticas. É onde a performance artística pessoal se manifesta de forma mais pura, um espaço para a autodescoberta e para a construção de uma identidade visual que está em constante movimento.

Ele é a essência de uma jornada que começou na zona leste de São Paulo e hoje se desdobra em Barra do Garças, Mato Grosso, conectando a efervescência urbana à tranquilidade do centro-oeste. É a materialização de um processo vital, um pilar de saúde mental e espiritual que permite a Sérgio transitar entre o ateliê, as ruas e as instituições, sempre construindo pontes e dialogando com o público.

Caderno de artista com anotações e desenhos. Ao lado livro Arnaldo Antunes.

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