38º Panorama da Arte Brasileira: Mil Graus - Exposição Inédita no MAC USP de 2024

Descubra o 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil Graus, com 130 obras e 79 inéditas de 34 artistas. Em exibição no MAC USP de 5 de outubro de 2024 a 26 de janeiro de 2025.

ARTES PLÁSTICASEXPOSIÇÕES

autor: Astral

10/1/2024

Dona Romana (Natividade, TO, Brasil [Brazil], 1941) Centro Bom Jesus de Nazaré
Dona Romana (Natividade, TO, Brasil [Brazil], 1941) Centro Bom Jesus de Nazaré

O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) acaba de anunciar a aguardada abertura da 38ª edição do Panorama da Arte Brasileira, intitulada "Mil Graus", que ocorrerá de 5 de outubro de 2024 a 26 de janeiro de 2025. A exposição bienal, que já se consolidou como um dos eventos mais importantes do calendário artístico nacional, busca promover uma análise crítica e inovadora da arte contemporânea brasileira. Nesta edição, o Panorama apresenta 34 artistas e coletivos provenientes de 16 estados brasileiros, exibindo mais de 130 obras, sendo 79 delas inéditas, criadas especialmente para o evento. Diante de reformas na marquise do Parque Ibirapuera, onde o MAM está situado, a exposição será realizada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), em um esforço colaborativo que fortalece os laços entre essas duas renomadas instituições culturais.

O Conceito de "Mil Graus"

O tema central do 38º Panorama da Arte Brasileira, "Mil Graus", alude ao conceito de um "calor-limite", uma temperatura em que tudo atinge seu ponto de transformação irreversível. Metaforicamente, a proposta curatorial evoca a crise climática e os desafios sociais, culturais e espirituais enfrentados pelo Brasil e pelo mundo contemporâneo. Sob a curaria de Germano Dushá e Thiago de Paula Souza, com a curaria-adjunta de Ariana Nuala, a exposição explora esse "calor" em diversas dimensões, oferecendo uma análise profunda das transformações que estão moldando a sociedade, seja no campo ecológico, político, corporal ou espiritual.

Esta edição do Panorama, em particular, não só revisita questões sociais urgentes, como também propõe novas perspectivas para entender a realidade brasileira contemporânea. Em um cenário de crise global, o conceito de "Mil Graus" reflete a intensidade das pressões que vêm impondo transformações significativas e, muitas vezes, irreversíveis, nas esferas física, social e cultural. Assim, a exposição se torna um espaço onde esses processos de transmutação podem ser observados, analisados e, sobretudo, experimentados por meio da arte.

38º Panorama da Arte Brasileira: "Mil Graus" no MAC USP – Arte Contemporânea em Destaque

Dona Romana (Natividade, TO, Brasil [Brazil], 1941) Centro Bom Jesus de Nazaré, sítio Jacuba foto: Emerson Silva

A Colaboração com o MAC USP

A mudança de local para o MAC USP representa um marco importante para esta edição do Panorama. O MAM e o MAC USP compartilham uma origem comum, e essa parceria reforça a ligação histórica entre as duas instituições. Para Elizabeth Machado, presidente do MAM, e Cauê Alves, curador-chefe do museu, essa colaboração é uma oportunidade de fortalecer os laços institucionais e promover a união de esforços em prol da arte. "Realizar o 38º Panorama da Arte Brasileira no MAC, além de uma aproximação histórica, é um momento de integração e soma de esforços", afirmam eles.

A exposição ocupará tanto o térreo quanto o terceiro andar do MAC USP, oferecendo aos visitantes uma imersão em diferentes formas de expressão artística. O diretor do MAC USP, José Lira, também comemorou a parceria: "É com enorme satisfação que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo acolhe o 38º Panorama da Arte Contemporânea Brasileira". Desde 2018, o MAC USP tem priorizado parcerias institucionais para realizar exposições e eventos culturais, e esta edição do Panorama reforça esse compromisso.

Curadoria e Eixos Temáticos

A proposta curatorial do 38º Panorama foi dividida em cinco eixos temáticos que, em vez de constituir núcleos fechados, servem como fios condutores que interligam os trabalhos expostos. Esses eixos são: Ecologia Geral, Territórios Originários, Chumbo Tropical, Corpo-aparelhagem eTranses e Travessias. Cada um desses temas aborda uma faceta distinta da realidade contemporânea brasileira, proporcionando uma leitura diversificada e plural da produção artística atual.

Labō & Rafaela Kennedy (Belém, PA, Brasil [Brazil], 1995 & Manaus, AM, Brasil, 1994) Amoré, 2023
Labō & Rafaela Kennedy (Belém, PA, Brasil [Brazil], 1995 & Manaus, AM, Brasil, 1994) Amoré, 2023
ADVÂNIO LESSA. Raízes mortas da natureza e cipó, série Vida, 2015 - 2023
ADVÂNIO LESSA. Raízes mortas da natureza e cipó, série Vida, 2015 - 2023

Labō & Rafaela Kennedy (Belém, PA, Brasil [Brazil], 1995 & Manaus, AM, Brasil, 1994) Amoré, 2023

ADVÂNIO LESSA. Raízes mortas da natureza e cipó, série Vida, 2015 - 2023

Ecologia Geral

O eixo Ecologia Geral reflete sobre as noções ampliadas de ecologia, onde o ser humano e o meio ambiente são vistos como elementos inseparáveis de um todo interconectado. Este tema destaca práticas artísticas que exploram questões ambientais e ecológicas sob uma perspectiva que transcende a abordagem tradicional de "natureza" e "preservação". Os artistas que trabalham dentro desse eixo desenvolvem uma visão mais holística da relação entre o ser humano e o planeta, abordando a crise ecológica e propondo novos modos de coexistência que sejam sustentáveis e integradores.

Territórios Originários

Territórios OrigináriosÉ um eixo que dá voz às narrativas e vivências de povos indígenas, quilombolas e outras comunidades que resistem às pressões da colonização e do capitalismo global. As obras presentes neste tema buscam refletir sobre modos de vida que desafiam a hegemonia cultural e econômica, trazendo visões alternativas sobre a história e a identidade do Brasil. Os artistas utilizam suas próprias vivências para questionar a atual conjuntura do país, oferecendo novas perspectivas sobre questões como a preservação da cultura e a luta por direitos territoriais.

Chumbo Tropical

O eixo Chumbo TropicalTrata da subversão de imaginários sobre o Brasil, confrontando os estereótipos que moldam a identidade nacional. O termo faz alusão ao regime ditatorial militar brasileiro, mas também pode ser lido como uma crítica às representações simplistas do país como um "paraíso tropical". As obras inseridas nesse eixo promovem uma releitura crítica da história brasileira, subvertendo narrativas que glorificam a colonização e exploram a complexidade da identidade nacional em toda a sua diversidade.

Rop Cateh Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella (Território Indígena Taquaritiua, MA
Rop Cateh Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella (Território Indígena Taquaritiua, MA

Corpo-aparelhagem

Corpo-aparelhagem explora as inter-relações entre o corpo humano e a tecnologia, abordando a mutabilidade do corpo e as formas como ele é moldado por dispositivos tecnológicos e culturais. Os artistas deste eixo refletem sobre as transformações corporais e as hibridizações entre seres humanos, máquinas e o meio ambiente. A ideia central aqui é a de que o corpo não é algo fixo, mas sim um processo contínuo de transformação, moldado por suas interações com o mundo ao seu redor.

Transes e Travessias

O último eixo, Transes e Travessias, aborda temas espirituais, místicos e transcendentais. As obras presentes neste eixo tratam de conhecimentos ancestrais, práticas religiosas e rituais que vão além da esfera material, oferecendo uma visão mais ampla sobre as experiências humanas. O misticismo e as práticas espirituais são abordados como formas de canalizar os mistérios da vida, proporcionando uma nova maneira de entender o mundo e suas transformações.

Artistas e Obras

O 38º Panorama reúne obras de 34 artistas e coletivos, que exploram uma ampla gama de temas e técnicas, utilizando desde materiais orgânicos, como o barro, até tecnologias digitais de ponta. A diversidade de abordagens é um reflexo da rica multiplicidade que caracteriza a produção artística contemporânea no Brasil.

Entre os destaques está Advânio Lessa, que apresenta uma série inédita de esculturas conectadas entre diferentes espaços expositivos, como o MAC USP, o Museu Afro Brasil Emanuel Araujo, o Caserê e a UMAPAZ. A obra de Lessa cria uma rede de diálogos que conecta a história e a cultura afro-brasileira com a contemporaneidade.

Rop Cateh Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella (Território Indígena Taquaritiua, MA, Brasil) Em colaboração com Gê Viana (Santa Luiza, MA, 1986)

Um Breve Histórico do Panorama da Arte Brasileira

O Panorama da Arte Brasileira é uma das exposições mais tradicionais do circuito de arte do Brasil. Criada em 1969, a mostra sempre teve como objetivo apresentar uma visão abrangente e atualizada da produção artística brasileira contemporânea. Nas primeiras edições, o Panorama desempenhou um papel crucial na formação da coleção de arte contemporânea do MAM, pois muitas das obras expostas foram posteriormente incorporadas à acervo do museu. Ao longo dos anos, o Panorama se consolidou como uma plataforma que não só apresenta o que há de mais relevante na arte brasileira, mas também promove debates críticos sobre o momento cultural, político e social do país.

Realizado a cada dois anos, o Panorama do MAM tornou-se um espaço de experimentação curatorial, onde diferentes temas e abordagens são testados e discutidos. Cada edição busca captar as transformações em curso na sociedade brasileira e no cenário artístico global, oferecendo ao público uma amostra diversificada das muitas linguagens, estilos e preocupações que caracterizam a arte contemporânea.

Programação Pública: Performances, Conversas e Visitas Mediadas

Como em todas as edições do Panorama da Arte Brasileira, a 38ª edição também contará com uma ampla programação pública, oferecendo atividades que buscam engajar os visitantes em um diálogo direto com a arte e os artistas. Entre as principais atividades programadas estão performances ao vivo, ativações de obras, conversas com os curadores e visitas mediadas conduzidas pela equipe educacional do MAM. Essas visitas mediadas têm como objetivo ampliar a compreensão do público sobre os temas abordados na exposição, oferecendo interpretações e leituras críticas que enriquecem a experiência de visitação.

As performances serão uma parte crucial dessa programação, trazendo a arte ao vivo para o espaço expositivo e criando momentos de interação entre os artistas e o público. Performances como as de Davi Pontes, que trabalhará com uma dupla de performers em uma obra comissionada, prometem transformar o campo expositivo em um palco de experimentação e diálogo corporal. A ideia é que essas ativações possibilitem novas leituras das obras e ampliem as interpretações dos visitantes.

Além disso, as conversas com curadores serão momentos importantes para que o público entenda as escolhas e os processos por trás da organização da exposição. Essas conversas abordarão tanto os conceitos curatoriais quanto os desafios enfrentados na realização da mostra. Para os educadores e mediadores do MAM, essas atividades representam uma oportunidade de conectar a arte com o público de maneira mais direta e acessível, incentivando a reflexão e o debate crítico.

Leia também: